O
plenário da Câmara dos Deputados aprovou, na noite desta quarta-feira
(20), em votação simbólica, o Projeto de Lei (PL) 2628/2022, que estabelece
regras para proteção e prevenção de crimes contra crianças e adolescentes em
ambientes digitais. É o chamado PL contra a “adultização” de crianças.


De
autoria do senador Alessandro Vieira (MDB-SE), o projeto foi relatado na Câmara
pelo deputado Jadyel Alencar (Republicanos-PI) e contou com o apoio de centenas
de organizações da sociedade civil que atuam com a proteção das crianças e
adolescentes no Brasil.
O
texto aprovado é um substitutivo do relator. Apesar da proposta já ter
passado pelo Senado, como houve mudanças na Câmara, o texto retornará para
apreciação final dos senadores.
Uma
das novidades do projeto aprovado na Câmara é a previsão de uma autoridade
nacional autônima, entidade da administração pública que será responsável por
zelar, editar regulamentos e procedimentos e fiscalizar cumprimento da nova
legislação. A entidade deverá ser criada por norma própria e funcionará nos
moldes da Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD).
Com
16 capítulos e 41 artigos, o texto obriga as plataformas digitais a
tomarem medidas “razoáveis” para prevenir riscos de crianças e adolescentes
acessarem conteúdos ilegais ou considerados impróprios para essas faixas
etárias, como exploração e abuso sexual, violência física, intimidação,
assédio, promoção e comercialização de jogos de azar, práticas publicitárias
predatórias e enganosas, entre outros crimes.
Além
disso, a proposta prevê regras para supervisão dos pais e
responsáveis e exige mecanismos mais confiáveis para verificação da idade dos
usuários de redes sociais, o que atualmente é feito basicamente por
autodeclaração.
A
matéria ainda disciplina o uso de publicidade; a coleta e o tratamento de
dados pessoais de crianças e adolescentes e estabelece regras para jogos
eletrônicos, veda à exposição a jogos de azar. Em caso de descumprimento
das obrigações previstas na lei, os infratores ficam sujeitos a penalidades que
variam de advertência, multas que podem chegar a R$ 50 milhões, suspensão
temporária de atividades e até a proibição definitiva das atividades no país.
“Não
tenho dúvida que nossas crianças e adolescentes irão reconhecer o trabalho do
Parlamento brasileiro em buscar um ambiente seguro nas redes sociais, no
ambiente digital”, celebrou o presidente da Câmara, deputado Hugo Motta
(Republicanos-PB), que pautou e comandou a sessão de votação da proposta.
Inicialmente
combatido por grande parte da oposição no Congresso, o PL 2628 acabou ganhando
adesões nesse campo após o relator acolher modificações na proposta, como a
criação de uma agência reguladora autônoma – a ser instituída por lei própria –
e a restrição sobre quem pode pedir remoção de conteúdo criminoso. Por isso, o
PL, principal partido da oposição, retirou os destaques ao projeto para que a
medida avançasse sem percalços no plenário.
“Hoje,
as crianças do Brasil ganham. Do texto, foram retiradas todas as censuras que
poderiam ter. A Câmara dos Deputados sempre vai lutar para que as crianças não
sejam sensualizadas”, afirmou o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do
seu partido e um dos expoentes oposicionistas no Congresso.
“Nós
mostramos hoje que, quando queremos, as nossas divergências ficam de lado e
prevalecem o interesse e o bem comum. E o bem comum neste caso é a proteção dos
direitos das crianças e adolescentes. Estamos protegendo uma geração inteira”,
destacou o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ).
Remoção
imediata
Ponto
central da proposta, a possibilidade de remoção imediata de conteúdos
criminosos por parte das plataformas deve se dar a partir de um processo
específico de notificação.
No
artigo 29, que trata dessa questão, os fornecedores de produtos ou serviços de
tecnologia da informação direcionados ou de acesso provável por crianças e
adolescentes deverão proceder a retirada de conteúdo que viola direitos de
crianças e adolescentes assim que forem comunicados do caráter ofensivo da
publicação pela vítima, por seus representantes, pelo Ministério Público ou por
entidades representativas de defesa dos direitos de crianças e adolescentes,
independentemente de ordem judicial.
Na
avaliação de especialistas, o projeto de lei adapta direitos que já estão previstos no
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), mas que não costumam ser
aplicados nas redes sociais.
“O
PL 2628 protege a liberdade de expressão e de imprensa, porque tem um rol muito
restritivo de conteúdos que podem ser imediatamente removidos. São conteúdos de
exploração sexual, pornografia, assédio, de incentivo a automutilação e golpes
contra crianças e adolescentes. Opiniões, críticas e reportagens são mantidas,
não se aplicam no PL”, argumentou a deputada Sâmia Bonfim (PSOL-SP).
Para
a parlamentar, o projeto é resposta histórica contra o estímulo à violência e à
lucratividade indevida sobre a exposição de crianças no ambiente digital.
Comoção
nacional
O
assunto ganhou força depois do humorista Felipe Bressanim Pereira, conhecido
como Felca, publicar um vídeo, no dia 9 de agosto, denunciando o influenciador paraibano Hytalo Santos por
exploração de pessoas menores de 18 anos e alertando para riscos de
exposição infantil nas redes sociais.
O vídeo, que já tem quase 50 milhões de visualizações, teve
enorme repercussão no país e mobilizou políticos especialistas,
famílias, autoridades e organizações da sociedade civil em torno da aprovação
de uma legislação protetiva para crianças e adolescentes na internet e redes
sociais.
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