
Menos de 24 horas depois de autorizar a abertura de um inquérito contra o
presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), o ministro do Supremo
Tribunal Federal Gilmar Mendes suspendeu o andamento das investigações
sobre suspeita de envolvimento do tucano em um esquema de propina na
estatal Furnas Centrais Elétricas.
Ele também pediu que o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, avalie se há realmente a
necessidade do procedimento contra o senador.
O ministro acatou
argumentação da defesa de Aécio de que não há elementos novos que
justificam a instauração de um inquérito, já que os detalhes que constam
na delação do senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS) já eram
de conhecimento da Procuradoria-Geral da República.
“A petição do
parlamentar pode demonstrar que a retomada das investigações ocorreu
sem que haja novas provas. Além disso, é possível que a manifestação
satisfaça as diligências probatórias postuladas pelo procurador-geral da
República, possibilitando a imediata formação de juízo acerca do
destino da investigação, afirmou o ministro.
O suposto
envolvimento de Aécio no esquema de Furnas havia sido mencionado
anteriormente pelo doleiro Alberto Youssef em delação premiada. Mas, na
época, a menção ao tucano foi arquivada a pedido de Janot, que
considerou na ocasião que as informações do delator eram insuficientes.
Segundo
o Estado apurou, a decisão de Gilmar pegou integrantes da equipe de
Janot de surpresa e foi considerada "inusitada". Eles argumentam que se o
procurador-geral não achasse que a delação de Delcídio trouxe elementos
novos sobre o caso de Aécio, ele não haveria pedido a investigação.
Aécio
é investigado por suposto recebimento de propina de empresas
terceirizadas que mantinham contrato com Furnas. A vantagens indevidas
seriam pagas pelas empresas ao ex-diretor da companhia, Dimas Toledo,
que as repassava para o tucano. Na manifestação de defesa enviada por
Aécio a Gilmar, o senador afirma que o Tribunal de Contas da União
realizou auditoria nos contratos de terceirização da companhia e não
constatou indícios de desvio. O tucano também esclareceu que seu avô e o
avô de Dimas Toledo eram correligionários políticos, o que explica a
amizade das famílias.
Conta. Em outra linha da investigação, está
a suspeita de que recursos ilícitos oriundos do esquema fossem lavados
no exterior por meio de uma empresa ligada à irmã de Aécio, bem como
pelo envio de valores a conta em Lichtenstein, utilizando o serviço de
doleiros.
A defesa de Aécio alega que essa empresa foi aberta em
1993 e encerrou suas atividades em 1999, e não em 2010, o que faz com
que a empresa estivesse fora de atividade na época em que Aécio é
apontado como beneficiário do esquema de Furnas.
Anteontem, o
presidente da Câmara afastado, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também
passou a ser formalmente investigado por se beneficiar em um esquema em
Furnas que funcionava em paralelo ao de Aécio. O relator do caso é o
ministro Dias Toffoli.
Além do procedimento relatado por Gilmar
Mendes, Aécio é alvo de um segundo pedido de investigação no Supremo com
base na delação de Delcídio. Janot pediu para apurar se o tucano agiu
durante a CPI dos Correios para beneficiar o Banco Rural. Segundo
Delcídio, os dados bancários poderiam atingir “em cheio” o tucano e a
seus aliados no escândalo do mensalão.
Delcídio na época era o
presidente da CPI mista e disse ter “segurado a barra” para que não
viesse à tona a movimentação financeira das empresas de Marcos Valério
no Banco Rural. Também são alvo desse pedido de inquérito o deputado
Carlos Sampaio (PSDB-SP) e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB). Todos
negam as afirmações do senador.
Estadão Conteúdo