Um estudo publicado na revista científica Lancet, nesta sexta-feira (19), sugere que um intervalo maior entre a primeira e a segunda dose da vacina de Oxford/AstraZeneca pode ser mais eficaz contra a Covid-19. De acordo com os pesquisadores, um período de três meses seria mais benéfico para a população do que as seis semanas consideradas atualmente.
O estudo foi liderado pelo professor Andrew Pollard, da Universidade de Oxford, e teve como base os dados de ensaios clínicos randomizados do Reino Unido, do Brasil e da África do Sul, totalizando 17.178 participantes. A conclusão dos cientistas indica que, devido à proteção fornecida pela primeira dose do imunizante da Oxford, o tempo de espera até a aplicação da segunda dose pode ser prolongado.
Como há uma oferta limitada de vacinas, Pollard defende que, inicialmente, imunizar uma parcela maior da população apenas com uma dose pode ser mais vantajoso para a proteção coletiva do que vacinar metade das pessoas com duas doses. O professor não descarta, porém, a importância da segunda dose e afirma que ainda não é possível saber quanto tempo dura a proteção da primeira dose. “A longo prazo, a segunda dose deve garantir uma imunidade mais duradoura, então nós encorajamos todos a receberem as duas doses”, complementa, em nota.
Dos 17.178 participantes, 8.597 receberam a vacina e 8.581 receberam placebo. Aqueles que foram submetidos a um intervalo de doze semanas ou mais entre as doses apresentaram uma proteção maior, de 81%. No caso das pessoas que tomaram as doses com um intervalo de seis semanas, foi observada uma eficácia de 55%. Também foi possível notar que, após 22 dias da aplicação da primeira dose, a proteção oferecida corresponde a 76% — valor que não sofreu alterações ao longo dos três meses avaliados.
As análises também indicam que o imunizante da Oxford é capaz de reduzir a transmissão do Sars-CoV-2. Com uma dose, pode haver uma diminuição de 64%. Com duas doses, os casos podem cair em 50%. “Se a vacina não tivesse impacto na transmissão, nós esperaríamos que o número de positivos para Covid-19 fosse o mesmo nos grupos do imunizante e do placebo. Porém, nós vimos uma diminuição no número total de casos positivos, o que indica que as vacinas podem reduzir as infecções”, explica Pollard. “Esse resultado preliminar ainda precisa ser confirmado através de avaliações sobre o funcionamento da vacina na população geral”, completa.
Os pesquisadores reconhecem que o estudo possui limitações, uma vez que houve um acompanhamento restrito após a segunda dose ser administrada aos participantes dos ensaios clínicos. Além disso, a fase três não tinha como objetivo analisar se a eficácia da vacina varia dependendo do intervalo entre as doses. Ainda assim, os resultados apresentados foram submetidos ao processo de revisão por pares, realizado por especialistas, e servem como avaliação para uma estratégia que está sendo considerada ao redor do mundo durante as campanhas de vacinação.
Revista Galileu
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