ex-procuradora-geral da Assembleia Legislativa do RN, Rita das Mercês Reinaldo, afirmou ao Ministério Público Federal que o governador Robinson Faria (PSD) embolsou cerca de R$ 100 mil por mês, entre 2006 e 2010, através da contratação de servidores fantasmas na AL. A denúncia foi feito em acordo de delação premiada com o MPF.
As informações constam na decisão do ministro Raul Araújo, do Superior
Tribunal de Justiça (STJ), à qual teve acesso a repórter Camila Bonfim,
da TV Globo. O ministro expediu mandatos de busca e apreensão contra o governador e a prisão temporária de dois servidores públicos ligados a Robinson, dentro da operação Anteros, deflagrada nesta terça-feira (15).
Em nota, o governador Robinson Faria nega veementemente a prática de qualquer irregularidade durante seu mandato de deputado estadual, encerrado em 2010, e reforça que sempre esteve à disposição para prestar qualquer esclarecimento.
Ainda de acordo com o documento, o governador Robinson Faria tentou
comprar o silêncio de Rita das Mercês por meio de seus assessores Magaly
Cristina da Silva e Adelson Freitas dos Reis, presos nesta terça. Em
junho de 2017, eles procuraram a filha de ex-procuradora e o própria
Rita das Mercês para oferecer 'ajuda' financeira para pagar dívidas de
condomínio dela.
A defesa de Magaly Cristina da Silva disse que vai provar a inocência da servidora na Justiça. O G1 não conseguiu o contato com a defesa de Adelson Freitas.
Desvios na AL
Robinson começou a presidir a Assembleia em 2003. De acordo com a
delatora, a partir de 2006 ele passou a determinar a inclusão, na folha
de pagamento, de pessoas que "não exerciam quaisquer funções no Órgão,
com o único objetivo de desviar recursos públicos oriundos de suas
remunerações em favor do presidente e de outras pessoas".
Rita afirmou que inicialmente foram nomeadas pessoas para cargos em
comissão que existiam na estrutura do Legislativo, mas que não exerciam
nenhuma atividade. O pagamento era feito com propositadamente por meio
de cheques-salário que eram descontados pelo envolvidos no esquema
dentro de uma agência na própria Assembleia e eram repassados ao
governador através de assessores dele.
Segundo a delatora, quando não havia mais cargos disponíveis na AL, o
então presidente mandou que fossem incluídas pessoas na folha para
recebimento de gratificações. Quando esse tipo de nomeação também se
esgotou, uma novo formato o grupo encontrou outra solução para continuar
os desvios.
"A terceira modalidade de desvio surgiu em razão da inexistência de
cargos comissionados livres e da extrapolação do número de gratificações
passíveis de serem concedidas. Diante deste cenário, de acordo com Rita
das Mercês, Robinson Faria determinou a arregimentação de pessoas e a
simples inclusão na folha de pagamento, sem que fossem nomeadas para
algum cargo ou mesmo designados para o recebimento de gratificação", diz
o documento.
As investigações contra o governador Robinson Faria surgiram a partir
da Operação Dama de Espadas, do Ministério Público Estadual, que apurava
a existência de servidores fantasmas na ALRN. O filho de Rita das
Mercês, Gutson Reinaldo, foi o primeiro a fechar acordo de delação
premiada. Como ele citou o governador Robinson Faria, que tem foro
privilegiado, o caso chegou ao Superior Tribunal de Justiça. Um dos
principais alvos da operação, a ex-procuradora procurou diretamente o
MPF para propor a delação. Outro filho dela, Gustavo Villarroel, também
fechou acordo.
G1RN