No primeiro ato organizado de mulheres no Rio de Janeiro com a presença
de Dilma Rousseff, a presidente afastada condenou a cultura do estupro e
a segregação social que, segundo afirmou, ainda imperam na nossa
sociedade. Ela lembrou os casos recentes que ocorreram na cidade: o
estupro coletivo de uma jovem de 16 anos e a proibição de um clube a uma
babá acompanhar crianças ao banheiro social.
"Essa cultura do
estupro contra as mulheres e da exclusão social é algo que nós sabemos
que tem que ser combatido por todos os movimentos, mas também pelos
governos. É lamentável que ao escolher uma secretária das mulheres ela
se manifeste contra o abordo em caso de estupro, previsto em lei. É uma
conquista ainda pequena das mulheres, mas é uma conquista. Um agente
público, homem ou mulher, mas sobretudo uma mulher, não pode achar que
as suas convicções pessoais se sobreponham à lei”, disse Dilma,
referindo-se à nomeação de Fátima Pelaes para a Secretaria de Políticas
para Mulheres.
Em seu discurso, a presidente afastada afirmou
que o governo interino é um mau exemplo, ao colocar apenas “homens
brancos e velhos” no primeiro escalão, o que “não representa a nossa
diversidade”. Dilma disse também que o que tem assistido nos últimos 20
dias é “assustador”.
“Eu jamais pensei que assistiria alguém
ameaçar o Bolsa Família e as conquistas na área de educação. Nunca
pensei que num país com essa diversidade pudessem extinguir o Ministério
da Cultura. Não é um capricho nosso querer que sejamos representadas no
primeiro escalão do governo, porque não é possível deixar que ocorra
estupro coletivo ou segregação de babás".
Ela também chamou o
processo do impeachment a que responde de golpe e afirmou que, com as
gravações vazadas recentemente, ficou claro que se trata de uma forma de
impedir que as investigações de combate à corrupção cheguem a pessoas
como o deputado afastado Eduardo Cunha e o presidente interino Michel
Temer.
"No início eles queriam que eu renunciasse, para tirar o
incômodo que é a minha presença. Eu não cometi nenhum crime de
corrupção, não desviei dinheiro público, não tenho conta na Suíça, então
era melhor que eu renunciasse para evitar o incômodo de tirar uma
pessoa inocente. As mulheres resistem, seguram uma barra feia e seguram o
bonde. A minha vida inteira eu lutei contra a ditadura nesse país. E
agora eu tenho a honra de lutar pela democracia nesse país”.
Falando
para uma plateia majoritariamente feminina, Dilma disse que tem o dever
de zelar pela dignidade da mulher brasileira e lembrou a força que elas
têm. "Eu sei que sou um grande incomodo, porque, como eu sou mulher,
eles confundem as coisas. Eles falam que mulher é frágil, mas, se a
gente fosse frágil, a gente não criava filho, não segurava trabalhar e
cuidar das crianças, não conseguiríamos ter um trabalho decente, nos
formar nas universidades, somos a maioria em vários cursos. E se a gente
fosse tão frágil, eu não seria a primeira mulher presidente”.
Antes
de Dilma, diversas lideranças de movimentos de mulheres, trabalhistas,
sociais e políticas falaram contra o governo do presidente interino
Michel Temer e pedindo a volta de Dilma à presidência. O ato Mulheres
pela Democracia saiu do Largo da Carioca por volta de 17h com mil
pessoas e reuniu cerca de 25 mil na Praça XV, de acordo com a
organização.
Agência Brasil