O papa Francisco assinou norma, nessa quinta-feira (9), que torna
obrigatório aos membros do clero denunciar suspeitas de abusos sexuais, de
poder ou de acobertamento de casos ocorridos dentro da Igreja Católica. O
documento estabelece, assim, um novo procedimento a ser seguido nas dioceses,
além de exigir rapidez nas investigações preliminares.
O pontífice determinou que todas as dioceses do mundo devem criar, antes
de junho de 2020, sistemas acessíveis a quem quiser fazer denúncias, além de
garantir proteção e assistência aos denunciantes. As novas regras são ditadas
no Motu Próprio (documento de iniciativa do próprio papa) Vos estis lux mundi
(Vós sois a luz do mundo).
"Para que tais fenômenos, em todas as suas formas, não aconteçam
mais, é necessária uma conversão contínua e profunda dos corações, atestada por
ações concretas e eficazes que envolvam todos na Igreja, de modo que a
santidade pessoal e o empenho moral possam concorrer para fomentar a plena
credibilidade do anúncio evangélico e a eficácia da missão da Igreja",
afirmou o papa.
As novas regras fazem parte da promessa feita por ele de erradicar os
abusos sexuais dentro da Igreja, após a inédita cúpula no Vaticano com
representantes de todas as conferências episcopais para tratar da questão. As
regras se aplicam a todos os casos em que "se obrigue alguém, com
violência ou ameaça ou por meio do abuso de autoridade, a realizar ou sofrer
atos sexuais; realizar atos sexuais com menor ou pessoa vulnerável; produzir,
exibir, possuir ou distribuir material pornográfico infantil", segundo o
Artigo 1º do documento.
O texto inclui medidas voltadas aos casos de violência contra as
mulheres do clero, assim como o assédio a seminaristas ou noviços e os crimes de
acobertamento, além de "ações ou omissões voltadas para interferir ou
evitar investigações civis ou canônicas, administrativas ou penais".
A maior novidade apresentada no documento é que os religiosos têm a
"obrigação de informar a um bispo ou superior religioso, o que não
interfere nem modifica nenhuma outra obrigação de informar às autoridades civis
competentes".
No texto, o papa Francisco afirma que, embora muito já tenha sido feito,
é preciso continuar "a aprender com as lições amargas do passado, a fim de
olhar com esperança para o futuro". Para ele, essa responsabilidade recai
primeiramente sobre os que estão no governo pastoral.
"Por isso, é bom que se adotem, em nível universal, procedimentos
que tendem a prevenir e contrastar esses crimes que traem a confiança dos
fiéis", alertou o pontífice na apresentação inicial das novas regras.
Agência Brasil