sábado, 24 de agosto de 2024

Ideb: parceria entre Estado e municípios pode ser solução

A falta de integração entre as redes estadual e municipais de ensino está entre os principais fatores para os resultados negativos do Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb) em relação ao Ensino Médio, que colocaram o RN na lanterna do País pela segunda vez consecutiva. Isso porque, de acordo com a professora Rute Régis, coordenadora do Fórum de Educação do Estado, os estudantes encaram defasagens desde os anos iniciais do processo de escolarização. Por outro lado, estados como o Ceará, que figura entre os melhores resultados, têm apostado em um processo de colaboração das redes, segundo o vice-presidente da Undime-CE, Alexandre Sena.

Nos anos iniciais (1º ao 5º ano), do Ensino Fundamental, a média das escolas públicas cearenses foi de 6,5 e nos anos finais (6º ao 9º ano), de 5,4. Todas as notas são superiores à média registrada pelo Brasil (de 6 pontos para os anos iniciais do fundamental; 5 nos anos finais; e 4,3 no Ensino Médio). Alexandre Sena, vice-presidente da Undime-CE, afirma que o desempenho é fruto de investimentos que ocorrem há anos em regime de colaboração entre estados e municípios.

“O Estado oferece formação regional, onde profissionais são treinados e replicam essa formação para outras cidades. Isso fortalece muito o vínculo entre o estado e os municípios, com impactos no fluxo do processo escolar. Temos também o Programa de Alfabetização na Idade Certa (PAIC), que já existe há 12 anos e agora foi ampliado para o PAIC Integral, que trabalha com alunos de todas as séries – antes, eram trabalhados apenas estudantes do segundo, quinto e nono anos. No programa, toda a integralidade do ser é trabalhada, para além da parte de conteúdos”, frisa.

De acordo com Sena, também há a preocupação de diagnosticar as defasagens dos alunos para fazer as intervenções necessárias. Além disso, ressalta, os investimentos acontecem desde a Educação Infantil. “Aqui é trabalhada, nesta fase, a questão motora, que vai interferir, por exemplo, no desenvolvimento da escrita futuramente. Há um esforço para desmistificar a ideia de que a Educação infantil serve apenas para a criança brincar”, comenta.

No Rio Grande do Norte, de acordo com Rute Régis, coordenadora do Fórum de Educação do Estado e professora do Centro de Educação da UFRN, a integração poderia ser coordenada pela Secretaria de Educação do Estado (SEEC) junto às Diretorias Regionais (DIRECs) para estimular a adoção de estratégias capazes de mudar o cenário atual. No Ensino Médio púlbico, o RN teve nota 3,2, no IBD deste ano, a menor do País.

“Um dos fatores para isso são as defasagens de aprendizagem registradas antes do Ensino Médio. É uma lacuna que começa já anos iniciais do Ensino Fundamental. A gente tem, em média, 60% das nossas crianças que não sabem ler nem escrever e isso impacta lá na frente. Então, a rede estadual, juntamente com os municípios, precisa pensar maneiras para um arranjo do desenvolvimento educacional, onde seja possível organizar consórcios dentro do Estado para pensar o ensino como um todo”, frisa.

Escola do CE
Situada no distrito de Balseiros, na cidade de Ipueiras, localizada a 312 km de Fortaleza, a Escola Família Agrícola (EFA) Padre Eliésio dos Santos atende alunos de Ipú, Ararendá, Poranga, Ipaporanga, Nova Russas, Tamboril, Crateús e Quixeramobim. Ao todo, são 104 alunos, matriculados em seis turmas do 1º ao 3º ano do Ensino Médio. A unidade também oferta o curso Técnico em Agropecuária, de forma integrada e registrou, juntamente com a Escola de Aplicação do Recife (PE) a segunda melhor nota do Ensino Médio do País (7,5), atrás apenas da Escola Preparatória Cadetes do Ar, em Barbacenas (MG), com índice 7,8. A diretora da EFA, Lucélia Galvino, afirma que o bom desempenho se deve a investimentos feitos como formação de professores e aquisição de equipamentos, dentre outros.

Ela também destaca a integração entre escola e comunidade como um dos pilares para manter a boa performance dos estudantes, além de um processo intenso de busca ativa para manter os alunos na unidade de ensino. “Utilizamos a ferramenta do acompanhamento personalizado (individual), onde os educadores estão todos os dias acompanhando um grupo de estudantes, visitando, conversando e ajudando para que não haja abandono escolar”, diz.

Na EFA Padre Eliésio dos Santos, as aulas em contraturno também contribuem para o bom desempenho, segundo a diretora. “Nosso trabalho pedagógico é organizado e distribuído em tempo escola e tempo comunidade. No tempo escola, os estudantes passam a semana inteira por aqui, em uma rotina de estudos com aulas nos três turnos, cumprimento de horários, momentos para o lazer, trabalhos de pesquisas, aulas de campo, serões temáticos e noites culturais”, descreve Lucélia Glavino.

RN engatinha
A coordenadora de Desenvolvimento Escolar da Secretaria de Educação do RN (SEEC), Glauciane Pinheiro disse que o índice do Ideb registrado este ano, apesar de manter o ensino médio da rede pública do Estado em última posição no País, há avanços em relação a 2021. A situação, reconhece, aponta para um cenário onde ainda é “preciso avançar muito”. Ela diz que o regime de colaboração entre as redes de ensino é primordial para mudar o cenário atual.

Segundo ela, há articulações no âmbito do programa Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, do MEC, que visam as colaborações. As ações, no entanto, ainda estão no início, segundo ela. “No RN, as 167 cidades aderiram ao pacto, que é, na verdade, uma política nacional para alfabetização das crianças. Estamos começando o processo de colaboração dos municípios, com a formação de professores para os anos iniciais, tanto de escolas da rede estadual quanto municipais. Temos articuladores responsáveis por fazer a gestão do pacto em todo o território potiguar e estamos tentando criar estratégias para trabalhar, principalmente, a alfabetização e competências de leitura e de escrita”, comenta.

Segundo Pinheiro, os anos finais do Ensino Fundamental são os que mais precisam atenção. “Precisamos investir em regime de colaboração período, porque percebemos que no Ideb há um crescimento nos nossos indicadores nos anos iniciais. O maior desafio, acredito, é a formação de professores para os anos finais”, admite.

Tribuna do Norte

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