O
presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, criticou nesta segunda-feira (14),
em Nova York, nos Estados Unidos, as chamadas milícias digitais, que, segundo
ele, “agem para corroer a democracia”. O magistrado e mais cinco ministros do
STF – Luís Roberto Barroso, Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski
e Dias Toffoli – participam do evento privado Lide Brazil Conference,
promovido pelo grupo brasileiro Líderes Empresariais.
Essa
é primeira edição da conferência, que tem por objetivo debater questões como
economia, democracia e liberdade no Brasil a partir do ano que vem. Em sua
fala, Moraes cobrou do Poder Legislativo a regulamentação de plataformas
digitais como forma de combater a desinformação. Para ele, deputados e
senadores terão, junto com o Judiciário, de combater a disseminação de
notícias falsas. “Não é possível que as redes sociais sejam terra de ninguém.
Não é possível que as milícias digitais possam atacar impunemente sem que haja
uma responsabilização”, ressaltou.
O
ministro reconheceu que a falta de regulamentação é um problema mundial, mas
disse que o problema tem se agravado com as milícias digitais que “usam falso
manto da liberdade de expressão sem limites” para “corroer a democracia”,
“corroer a liberdade nos seus três pilares” e atacar “o sistema eleitoral que é
a base da democracia”.
Alexandre
de Moraes insistiu que ataques às urnas eletrônicas e a autoridades judiciárias
que conduzem o processo eleitoral afetam diretamente a democracia. Ao defender
a transparência, a confiabilidade das urnas eletrônicas e a rapidez na
apuração, Moraes avaliou que, independentemente da utilização de voto impresso,
por urnas eletrônicas ou voto por correio, o que importa para alguns “é
desacreditar o instrumento democrático que é o voto”.
“O
que se pretende substituir não são as urnas eletrônicas, se pretende substituir
o sistema político que tem o voto livre, periódico de todos os eleitores. Essa
construção de milícias digitais, de ataques sem responsabilidade, de confusão
do que é liberdade de expressão, não ataca só a liberdade de imprensa, não
ataca só o sistema eleitoral. Ataca também no mundo todo o Poder Judiciário.
Não é por outro motivo que o grande cliente dessas milícias digitais é o Poder
Judiciário”, acrescentou.
Aos
conferencistas em Nova York, o presidente do TSE disse ainda que “a democracia
foi atacada, a democracia foi desrespeitada, a democracia foi aventada, mas a
democracia sobreviveu”. O ministro atribuiu a situação ao fato de o Brasil ter
instituições fortes e um Poder Judiciário autônomo, que respeitam a
Constituição. “A nossa bandeira não é A, B, ou C. A nossa bandeira é a
Constituição, a nossa bandeira e a defesa do Estado de Direito, do Estado
Democrático de Direito, e assim será”, afirmou Moraes.
Na
mesma linha de Alexandre de Moraes, outros ministros como Gilmar Mendes e Dias
Toffoli defenderam o processo eleitoral no Brasil e a democracia. "O
meio político reconheceu imediatamente o resultado das eleições. Protestos e
demonstração de inconformismo são normais. Agressão não encontra abrigo na
Constituição, muito menos a defesa da ditadura. Isso é lamentável", disse Gilmar
Mendes.
Já
Toffoli criticou o fato de “autoproclamados conservadores” terem fechado
estradas após a divulgação do resultado das eleições no país,
interrompendo o direito de ir e vir das pessoas. “Não podemos deixar que o ódio
entre no nosso país", disse. O ministro lembrou o ataque ao Capitólio, nos
Estados Unidos, após a eleição de Joe Biden para a Presidência do país. Para
ele, a imprensa, a academia e magistratura defendem a “verdade factual”.
O
primeiro dia do evento em Nova York também reuniu o ex-presidente da República
Michel Temer, o ex-ministro e ex-presidente do STF Carlos Ayres Britto, e
o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Antônio Anastasia.
Protestos
Imagens
que circulam nas redes sociais mostram ministros do STF sendo hostilizados nas
ruas de Nova York por manifestantes brasileiros, muitos deles usando camisetas
verde-amarelas. O grupo contesta o resultado das eleições no Brasil. Luís
Roberto Barroso, Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes estão entre os
magistrados que foram alvo dos protestos.
Agência Brasil