Bradesco,
Itaú e Banco do Brasil vão fechar cerca de 1.200 agências até o final de 2020,
em um esforço que atribuem à transformação da demanda dos clientes. A medida,
acompanhada de PDVs (programas de demissão voluntária), serve para reduzir
custos em um período em que as receitas dos bancos podem ser afetadas pela
queda dos juros às taxas mínimas históricas.
Os
grandes bancos começam a manifestar, também, preocupação com a concorrência das
fintechs (empresas que usam tecnologia para oferecer serviços financeiros) e
começam a ajustar suas gigantescas estruturas e custos a essa nova realidade.
Assim, a
diminuição da presença física dos três maiores bancos do país vem acompanhada
de volumes mais altos de despesas e investimentos mais fortes em tecnologia da
informação e nos canais digitais.
O
fechamento de agências é puxado pelos dois maiores bancos privados do país, que
deixarão de atender em 800 pontos entre este e o próximo ano. O Banco do
Brasil, que não tem uma projeção específica sobre o fechamento de agências, já
encerrou 417 instalações apenas neste ano.
Até o
terceiro trimestre deste ano, Bradesco, Itaú e Banco do Brasil já fecharam 749
agências em comparação há um ano atrás.
Essa
redução foi mais visível no BB, que diminuiu em 11% suas estruturas
tradicionais no período, para 3.684 agências. Já o número de instalações que
considera digitais e especializadas ficou praticamente estável.
Bradesco
e Itaú, por sua vez, diminuíram em 1,8% e 5,7%, respectivamente, o número de
agências físicas disponíveis aos seus clientes no período.
Entre os
grandes que têm ações negociadas em Bolsa, apenas o Santander seguiu na
contramão e teve uma alta de 1,8% no número de instalações.
Em termos
gerais, agências especializadas são voltadas para o atendimento de segmentos
específicos, como o corporativo de pequeno ou grande porte. Já as digitais são
agências físicas com horário de atendimento ampliado, mais atendimento pessoal,
mas também com ferramentas e serviços automatizados. Também têm permitem o
contato com o gerente da conta ou com especialistas de investimentos por
videoconferência, por exemplo.
Para
Vitor França, economista do SCPC Boa Vista (Serviço Central de Proteção ao
Crédito), não são todas as regiões do país que conseguem receber bem essas
mudanças. Ele diz que, ao cruzar informações de renda e acesso à internet com o
fechamento de instalações, é possível notar que esse movimento acontece de
forma intensa em áreas mais ricas.
“Muita
gente de regiões com menor acesso à internet ou renda mais baixa ainda são
extremamente dependentes de agências físicas. O limite para o encerramento de
agências é exatamente o fato de que essas instituições são grandes e chegam a
lugares que essas novas concorrentes não chegam”, acrescenta.
De acordo
com o diretor sênior de instituições financeiras da Fitch Ratings, Claudio
Gallina, mesmo que o ambiente das fintechs ainda seja algo relativamente novo
no sistema financeiro, já é possível ver impactos em alguns segmentos –como o
de maquininhas de cartões e meios de pagamentos–, bem como um esforço
significativo dos grandes bancos em não ficar para trás.
“Apesar
de vermos reduções de agências e de pessoal, também observamos altos
investimentos em TI [tecnologia da informação] e gastos decorrentes de toda
essa movimentação. Há aquisições de novas companhias tecnológicas, aportes de
dinheiro para modernização de sistemas e os custos recorrentes da decisão de
enxugamento das estruturas”, afirma Gallina.
No Itaú,
as despesas com pessoal cresceram 4,2%, em parte por causa do PDV avberto no
meio do ano. No Bradesco, que iniciou o PDV em agosto, a alta foi de 12,9%.
Folhapress