O presidente em exercício diz que é “zero” a chance de as investigações provarem algo contra ele e que a economia vai melhorar depois da definição do impeachment.
De segunda a sexta, o peemedebista continua morando no
Jaburu, o belo palácio que Oscar Niemeyer projetou para parecer "uma casa
de fazenda", e que lembra mesmo uma, mais ainda quando as galinhas que
ciscam à beira do lago comparecem de surpresa às reuniões que o presidente em
exercício faz na sala envidraçada voltada para o jardim. Lá, em entrevista a
VEJA, ele defendeu as privatizações de tudo "o que for possível",
revelou ser contrário à criação de normas para "disciplinar" as
delações premiadas, mas disse considerar "discutível" a decisão que
prevê a prisão imediata dos réus condenados em segunda instância. Ao comentar a
possibilidade de o deputado Eduardo Cunha renunciar à presidência da Câmara,
contou que o aconselhou a "meditar a respeito". Sobre ele próprio,
afirmou ser "zero" a chance de ter uma acusação comprovada na
Lava-Jato. Reclamou da "campanha" dos adversários e elogiou a mulher,
Marcela, a quem julga "preparadíssima" para entrar na vida pública. A
estreia, disse, se dará assim que ela se mudar para Brasília com o filho do
casal, Michelzinho, o que deve acontecer em agosto, se tudo correr como se
prevê e o hoje presidente em exercício se tornar o 37º presidente da República
do Brasil. Leia um trecho da entrevista:
De zero a 10, qual é a
possibilidade de a Lava-Jato abalar seu governo? Zero.
Convenhamos, em 45 dias resolvemos o problema federativo no país com a dívida
dos estados, aprovamos a Desvinculação de Receitas da União, a DRU, em duas
semanas... No caso das estatais, o projeto estava parado no Senado. Votamos na
Câmara. São exemplos de que a Lava-Jato não atrapalha em nada.
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E qual é a possibilidade de a Lava-Jato atingi-lo pessoalmente?
O que houve é que fui presidente do partido por muitos anos. Entravam doações,
todas oficiais. Há uma tendência para criminalizar as doações oficiais. É
preciso separar bem o que é propina do que foi doação legal.
O senhor presidiu o PMDB
durante quinze anos. As investigações mostram que, nesse período, houve
pagamentos de propina a José Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá e Eduardo
Cunha... O senhor nunca suspeitou de nada? Eu cuidava das
doações oficiais. Nunca soube que alguém pudesse dar verbas fora da doação
oficial. E são afirmações que merecem comprovação, não são definitivas, têm de
ser comprovadas.
O que a interinidade o impede
de fazer no governo? Embora sinta que a confiança no Brasil
está começando a renascer, reconheço que o investimento estrangeiro está
esperando para ver o que vai acontecer em agosto, na votação do impeachment.
Tenho a impressão de que então se abrirá um novo campo. É a única observação
que faço em relação ao, digamos, prejuízo da interinidade. Fora isso, só o lado
pessoal.
Como assim?
Campanhas contra mim, por exemplo. Enquanto existir a interinidade, existe a
perspectiva do retorno. E, enquanto existir a perspectiva do retorno, desejosos
desse retorno se dedicarão a esse tipo de ação. Tentaram invadir o meu
escritório em São Paulo. Outro dia, um grupo se postou em frente à minha casa e
começou a gritar palavrões, assustando minha mulher e meu filho. Os dois
ficaram chorando, foi muito desagradável.
Do ponto de vista pessoal,
sua vida mudou muito depois de o senhor assumir a Presidência?
Comecei a compreender que a vida do presidente da República é muito devassada,
não há como evitar. Hoje, não vou a cinema, não vou a restaurante, não ando
mais na praça como fazia. Se eu for, vão dez seguranças junto.
VEJA