Na linguagem corrente, a Quaresma abrange os dias que vão da
Quarta-feira de Cinzas até ao Sábado Santo. Contudo, a liturgia
propriamente quaresmal começa com o primeiro Domingo da Quaresma e
termina com o sábado antes do Domingo da Paixão.
A Quaresma pode se considerar, no ano litúrgico, o tempo mais rico de
ensinamentos. Lembra o retiro de Moisés, o longo jejum do profeta Elias e
do Salvador. Foi instituída como preparação para o Mistério Pascal, que
compreende a Paixão e Morte (Sexta-feira Santa), a Sepultura (Sábado
Santo) e a Ressurreição de Jesus Cristo (Domingo e Oitava da Páscoa).
Data dos tempos apostólicos a Quaresma como sinônimo de jejum observado
por devoção individual na Sexta-feira e Sábado Santos, e logo estendido a
toda a Semana Santa. Na segunda metade do século II, a exemplo de
outras igrejas, Roma introduziu a observância quaresmal em preparação
para a Páscoa, limitando porém o jejum a três semanas somente: a
primeira e quarta da atual Quaresma e a Semana Santa.
A verdadeira Quaresma com os quarenta dias de jejum e abstinência de
carne, data do início do século IV, e acredita-se que, para essa
instituição, tenham influído o catecumenato e a disciplina da penitência
pública.
O jejum consistia originariamente numa única refeição tomada à tardinha;
por volta do século XV tornou-se uso comum o almoço ao meio-dia. Com o
correr dos tempos, verificou-se que era demasiado penosa a espera de
vinte e quatro horas; foi-se por isso introduzindo o uso de se tomar
alguma coisa à tarde, e logo mais também pela manhã, costume que vigora
ainda hoje. O jejum atual, portanto, consiste em tomar uma só refeição
diária completa, na hora de costume: pela manhã, ao meio-dia ou à tarde,
com duas refeições leves no restante do dia.
A Igreja prescreve, além do jejum, também a abstinência de carne, que
consiste em não comer carne ou derivados, em alguns dias do ano, que
variam conforme determinação dos bispos locais.
No Brasil são dias de jejum e abstinência a quarta-feira de cinzas e a
sexta-feira santa. Por determinação do episcopado brasileiro, nas
sextas-feiras do ano (inclusive as da Quaresma, exceto a Sexta-feira
Santa) fica a abstinência comutada em outras formas de penitência.
Praticar a abstinência é privar-se de algo, não só de carne. Por
exemplo, se temos o hábito diário de assistir televisão, fumar, etc,
vale o sacrifício de abster-se destes itens nesses dias. A obrigação de
se abster de carne começa aos 15 anos. A obrigação de jejuar,
limitando-se a uma refeição principal e a duas mais ligeiras no decurso
do dia, vai dos 21 aos 59 anos. Quem está doente (isto também vale para
as mulheres grávidas) não está obrigado a jejuar.
“Todos pecamos, e todos precisamos fazer penitência”, afirma São Paulo. A
penitência é uma virtude sobrenatural intimamente ligada à virtude da
justiça, que “dá a cada um o que lhe pertence”: de fato, a penitência
tende a reparar os pecados, que são ultrajes a Deus, e por isso dívidas
contraídas com a justiça divina, que requer a devida reparação e
resgate. Portanto, a penitência inclina o pecador a detestar o pecado, a
repará-lo dignamente e a evitá-lo no futuro.
A obrigatoriedade da penitência nasce de quatro motivos principais, a saber:
1º - Do dever de justiça para com Deus, a quem devemos honra e glória, o que lhe negamos com o nosso pecado;
2º- da nossa incorporação com Cristo, o qual, inocente, expiou os nossos
pecados; nós, culpados, devemos associar-nos a ele, no Sacrifício da
Cruz, com generosidade e verdadeiro espírito de reparação.
3º- Do dever de caridade para com nós mesmos, que precisamos descontar
as penas merecidas com os nossos pecados e que devemos, com o
sacrifício, esforçar-nos por dirigir para o bem as nossas inclinações,
que tentam arrastar-nos para o mal;
4º- do dever de caridade para com o nosso próximo, que sofreu o mau
exemplo de nossos pecados, os quais, além disso, lhe impediram de
receber, em maior escala, os benefícios espirituais da Comunhão dos
Santos.
Vê-se daí quão útil para o pecador aproveitar o tempo da Quaresma para
multiplicar suas boas obras, e assim dispor-se para a conversão.
Segundo os Santos Padres, a Quaresma é um período de renovação
espiritual, de vida cristã mais intensa e de destruição do pecado, para
uma ressurreição espiritual, que marque na Páscoa o reinício de uma vida
nova em Cristo ressuscitado.
A Quaresma tem por escopo primordial incitar-nos à oração, à instrução
religiosa, ao sacrifício e à caridade fraterna. Recomenda-se por isso a
freqüência às pregações quaresmais, a leitura espiritual diária,
particularmente da Paixão de Cristo, no Evangelho ou em outro livro de
meditação.
O jejum e abstinência de carne se fazem para que nos lembremos de
mortificar os nossos sentidos, orientando-os particularmente ao sincero
arrependimento e emenda de nossos pecados.
A caridade fraterna — base do Cristianismo — inclui a esmola e todas as obras de misericórdia espirituais e corporais.
Quais são as Obras de Misericórdia?
Corporais
1. Dar de comer a quem tem fome.
2. Dar de beber a quem tem sede.
3. Vestir os nus
4. Dar pousada aos peregrinos
5. Assistir aos enfermos.
6. Visitar os presos.
7. Enterrar os mortos.
Espirituais
1. Dar bom conselho.
2. Ensinar os ignorantes.
3. Corrigir os que erram.
4. Consolar os tristes.
5. Perdoar as injúrias.
6. Sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo.
7. Rogar a Deus por vivos e defuntos.
Fonte: Site Catequisar e Missal Romano