De nada adiantou a covardia do treinador uruguaio Alexander Medina ao pedir para que o gramado do Estádio José Almafitani fosse precarizado para o jogo de ida da semifinal da Libertadores.
Até porque o Flamengo está habituado a enfrentar o piso do Maracanã, desgastado por partidas do próprio time, do Fluminense e até eventualmente do Vasco, sem contar de outros estádios pelo Brasil. Incluindo o Nílton Santos, contra o Botafogo no último domingo.
O Vélez Sarsfield precisava atacar, adiantar a marcação. O time de Dorival Júnior respondeu alternando a saida de bola - ora sustentada, com os laterais Rodinei e Filipe Luís mais próximos do zagueiros, ora com Thiago Maia recuando para auxiliar David Luiz e Léo Pereira criando superioridade numérica contra Lucas Pratto e Walter Bou.
Superando as linhas adiantadas, era só encontrar Everton Ribeiro ou Arrascaeta nas costas dos volantes, ou o apoio de um João Gomes cada vez melhor ofensivamente, além da saúde e precisão nos desarmes, e fazer a bola chegar a Gabigol e, principalmente, Pedro.
O goleador absoluto da Libertadores é um parágrafo à parte dos 4 a 0 que colocam o Flamengo em sua terceira final de Libertadores nos últimos quatro anos. Forte, rápido, técnico, preciso. Três gols, chegando a 11 na competição. Mais participação no de Everton Ribeiro, o segundo no final do primeiro tempo que calou o estádio e fez os argentinos praticamente jogarem a toalha. Ainda um passe espetacular para Filipe Luís se assustar com a liberdade dentro da área e chutar com o tornozelo, fraco, nas mãos do goleiro Hoyos.
Domínio absoluto, com 58% de posse, 15 finalizações. Dez no alvo, quatro nas redes. Gabigol poderia ter marcado um dos três que perdeu e o Flamengo repetiria os 5 a 0 em uma semifinal, com fez em 2019 contra o Grêmio. Só que desta vez em solo argentino.
Uma vitória para consolidar o trabalho de Dorival Júnior e a clara evolução desde a "descoberta" do 4-3-1-2 nos 7 a 1 sobre o Tolima. O time foi maduro, técnico e eficiente.
Mas o triunfo com espetáculo só será histórico de fato se o terceiro título do clube for confirmado, contra Palmeiras ou Athletico, no dia 29 de outubro, em Guayaquil.
Porque em 2021 também houve campanha invicta até a decisão, com 100% de aproveitamento no mata-mata. Também houve gol espetacular na semifinal, contra o Barcelona em Guayaquil, com Bruno Henrique completando uma sequência de passes desde o goleiro Diego Alves e passando pelos dez jogadores de linha. Teve Renato Gaúcho se tornando o treinador com mais vitórias na história do torneio continental.
Assim como o favoritismo atribuído por todos, mesmo com o Palmeiras ostentando o título e sendo o adversário na decisão em Montevidéu. Tudo ruiu na falha grotesca de Andreas Pereira que Deyverson não perdoou. Algum rubro-negro lembra com carinho da primeira Libertadores em que o Flamengo chegou à final e foi derrotado, justo pelo maior rival nacional dos últimos anos?
Por isso é preciso ratificar o fantástico momento com taça. Ou taças, já que a vaga na final da Copa do Brasil também está bem próxima. Sem título, o que sobra é o meme do campeão. No caso do Flamengo, a volta do papo do "cheirinho".
Sem a taça, o show em Buenos Aires será apenas um "fogo de palha", uma "ilusão" que terminou em decepção. O Vélez será reduzido a um timeco e o Flamengo condenado pelo "oba oba". A história é contada pelos vencedores. Na guerra e também no futebol.
A conquista colocará de vez na história uma geração que, indiscutivelmente, mudou o patamar do clube no cenário sul-americano. Agora temido, embora às vezes desrespeitado, como fez "Cacique" Medina ao sugerir em entrevista que foi um "acidente" em 2019 a vitória sobre o River Plate em Lima.
Só os troféus encerram discussões. Às vezes transformam profissionais medianos, ou apenas promissores, em gurus, gênios. Podem desta vez consagrar um time que se impõe em qualquer estádio e constroi uma trajetória improvável de recuperação na temporada, depois do desastre da passagem de Paulo Sousa.
Méritos de Dorival Júnior, principalmente. Mas treinador e clube necessitam dos títulos para remover asteriscos. Há duas finais no horizonte e ainda uma "missão impossível" nos pontos corridos. É hora de não deixar a história escapar pelos dedos.
UOL
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