A
falta de integração entre as redes estadual e municipais de ensino está entre
os principais fatores para os resultados negativos do Índice de Desenvolvimento
de Educação Básica (Ideb) em relação ao Ensino Médio, que colocaram o RN na
lanterna do País pela segunda vez consecutiva. Isso porque, de acordo com a
professora Rute Régis, coordenadora do Fórum de Educação do Estado, os
estudantes encaram defasagens desde os anos iniciais do processo de
escolarização. Por outro lado, estados como o Ceará, que figura entre os
melhores resultados, têm apostado em um processo de colaboração das redes,
segundo o vice-presidente da Undime-CE, Alexandre Sena.
Nos
anos iniciais (1º ao 5º ano), do Ensino Fundamental, a média das escolas
públicas cearenses foi de 6,5 e nos anos finais (6º ao 9º ano), de 5,4. Todas
as notas são superiores à média registrada pelo Brasil (de 6 pontos para os
anos iniciais do fundamental; 5 nos anos finais; e 4,3 no Ensino Médio).
Alexandre Sena, vice-presidente da Undime-CE, afirma que o desempenho é fruto
de investimentos que ocorrem há anos em regime de colaboração entre estados e
municípios.
“O
Estado oferece formação regional, onde profissionais são treinados e replicam
essa formação para outras cidades. Isso fortalece muito o vínculo entre o
estado e os municípios, com impactos no fluxo do processo escolar. Temos também
o Programa de Alfabetização na Idade Certa (PAIC), que já existe há 12 anos e
agora foi ampliado para o PAIC Integral, que trabalha com alunos de todas as
séries – antes, eram trabalhados apenas estudantes do segundo, quinto e nono
anos. No programa, toda a integralidade do ser é trabalhada, para além da parte
de conteúdos”, frisa.
De
acordo com Sena, também há a preocupação de diagnosticar as defasagens dos
alunos para fazer as intervenções necessárias. Além disso, ressalta, os
investimentos acontecem desde a Educação Infantil. “Aqui é trabalhada, nesta
fase, a questão motora, que vai interferir, por exemplo, no desenvolvimento da
escrita futuramente. Há um esforço para desmistificar a ideia de que a Educação
infantil serve apenas para a criança brincar”, comenta.
No
Rio Grande do Norte, de acordo com Rute Régis, coordenadora do Fórum de
Educação do Estado e professora do Centro de Educação da UFRN, a integração
poderia ser coordenada pela Secretaria de Educação do Estado (SEEC) junto às
Diretorias Regionais (DIRECs) para estimular a adoção de estratégias capazes de
mudar o cenário atual. No Ensino Médio púlbico, o RN teve nota 3,2, no IBD
deste ano, a menor do País.
“Um
dos fatores para isso são as defasagens de aprendizagem registradas antes do
Ensino Médio. É uma lacuna que começa já anos iniciais do Ensino Fundamental. A
gente tem, em média, 60% das nossas crianças que não sabem ler nem escrever e
isso impacta lá na frente. Então, a rede estadual, juntamente com os
municípios, precisa pensar maneiras para um arranjo do desenvolvimento
educacional, onde seja possível organizar consórcios dentro do Estado para
pensar o ensino como um todo”, frisa.
Escola
do CE
Situada no distrito de Balseiros, na cidade de Ipueiras, localizada a 312 km de
Fortaleza, a Escola Família Agrícola (EFA) Padre Eliésio dos Santos atende
alunos de Ipú, Ararendá, Poranga, Ipaporanga, Nova Russas, Tamboril, Crateús e
Quixeramobim. Ao todo, são 104 alunos, matriculados em seis turmas do 1º ao 3º
ano do Ensino Médio. A unidade também oferta o curso Técnico em Agropecuária,
de forma integrada e registrou, juntamente com a Escola de Aplicação do Recife
(PE) a segunda melhor nota do Ensino Médio do País (7,5), atrás apenas da
Escola Preparatória Cadetes do Ar, em Barbacenas (MG), com índice 7,8. A
diretora da EFA, Lucélia Galvino, afirma que o bom desempenho se deve a
investimentos feitos como formação de professores e aquisição de equipamentos,
dentre outros.
Ela
também destaca a integração entre escola e comunidade como um dos pilares para
manter a boa performance dos estudantes, além de um processo intenso de busca
ativa para manter os alunos na unidade de ensino. “Utilizamos a ferramenta do
acompanhamento personalizado (individual), onde os educadores estão todos os
dias acompanhando um grupo de estudantes, visitando, conversando e ajudando
para que não haja abandono escolar”, diz.
Na
EFA Padre Eliésio dos Santos, as aulas em contraturno também contribuem para o
bom desempenho, segundo a diretora. “Nosso trabalho pedagógico é organizado e
distribuído em tempo escola e tempo comunidade. No tempo escola, os estudantes
passam a semana inteira por aqui, em uma rotina de estudos com aulas nos três
turnos, cumprimento de horários, momentos para o lazer, trabalhos de pesquisas,
aulas de campo, serões temáticos e noites culturais”, descreve Lucélia Glavino.
RN
engatinha
A coordenadora de Desenvolvimento Escolar da Secretaria de Educação do RN
(SEEC), Glauciane Pinheiro disse que o índice do Ideb registrado este ano,
apesar de manter o ensino médio da rede pública do Estado em última posição no
País, há avanços em relação a 2021. A situação, reconhece, aponta para um
cenário onde ainda é “preciso avançar muito”. Ela diz que o regime de
colaboração entre as redes de ensino é primordial para mudar o cenário atual.
Segundo
ela, há articulações no âmbito do programa Compromisso Nacional Criança
Alfabetizada, do MEC, que visam as colaborações. As ações, no entanto, ainda
estão no início, segundo ela. “No RN, as 167 cidades aderiram ao pacto, que é,
na verdade, uma política nacional para alfabetização das crianças. Estamos
começando o processo de colaboração dos municípios, com a formação de
professores para os anos iniciais, tanto de escolas da rede estadual quanto
municipais. Temos articuladores responsáveis por fazer a gestão do pacto em
todo o território potiguar e estamos tentando criar estratégias para trabalhar,
principalmente, a alfabetização e competências de leitura e de escrita”,
comenta.
Segundo
Pinheiro, os anos finais do Ensino Fundamental são os que mais precisam
atenção. “Precisamos investir em regime de colaboração período, porque
percebemos que no Ideb há um crescimento nos nossos indicadores nos anos
iniciais. O maior desafio, acredito, é a formação de professores para os anos finais”,
admite.
Tribuna do Norte