A Mangueira
é a grande campeã do carnaval 2019 do Rio de Janeiro. A
Imperatriz Leopoldinense e a Império Serrano foram rebaixadas.
Para
conquistar o seu 20º título, a Mangueira deu uma aula de história na Sapucaí.
Mas foi uma história alternativa, com destaque para heróis da resistência
negros e índios em vez dos personagens tradicionais das páginas de livros
escolares.
O enredo “História pra ninar gente grande” foi assinado
pelo carnavalesco Leandro Vieira e contado em 24 alas e cinco alegorias. Em
busca do título, a Mangueira exibiu uma bandeira do Brasil com as cores da
escola no final do desfile.
"A
gente passou a mensagem que a gente queria, não só pro Brasil, mas para o mundo
inteiro, a valorização da nossa raça, os verdadeiros desbravadores deste
país", comemorou a rainha de bateria Evelyn Bastos, destacando que a
escola exaltou a história do povo negro.
"Lava
a alma. A Mangueira estava esperando esse título. Foi muita batalha",
afirmou Alvinho, ex-presidente da escola. "Fizemos um grande espetáculo e,
semana que vem, se Deus quiser, vamos repetir."
O
carnavalesco Leandro Vieira, que conquistou o segundo campeonato da sua
carreira, também celebrou a vitória. "A Mangueira merece esta festa. A
Mangueira é uma escola que faz carnaval para representar uma comunidade
importante.
Para
Vieira, este foi um "carnaval de representatividade". "Esses
homens e essas mulheres aqui são os heróis do meu enredo, que merecem sempre
ser exaltados. Aqui mora o que tem de melhor nesse país. E o que tem de melhor
nesse país faz essa festa que o mundo todo aplaude", vibra.
"É um recado político para o país todo, que tem que entender que
isso aqui é importante. É um recado político também para o presidente mostrar
que o carnaval é isso aqui. O carnaval é a festa do povo. O carnaval é cultura
popular. O carnaval não é o que ele acha que é. O carnaval é isso. E ele deveria
mostrar para o mundo o carnaval da Mangueira. O carnaval da arte, o carnaval da
luta, o carnaval do povo, o carnaval da cultura popular."
Vitória de ponta a ponta
A Mangueira
liderou a disputa de ponta a ponta. A escola e a Viradouro tiveram uma competição
apertada nos primeiros três quesitos, mas, a partir do quarto, de alegorias e
adereços, a Mangueira assumiu a primeira posição sozinha até o final da
apuração das notas.
A escola
verde e rosa apenas perdeu três décimos durante toda a apuração, mas estas
notas mais baixas foram descartadas na pontuação final.
Trajetória
no carnaval do Rio
No ano
passado, a Mangueira ficou em 5º lugar, com um samba-enredo que exaltou a
simplicidade do carnaval. A
campeã foi a Beija-Flor. A última vez que a verde e rosa levou o troféu foi
em 2016, quando
homenageou a cantora Maria Bethânia.
Ranking
de títulos no carnaval
Com a
vitória neste ano, a Mangueira chegou ao seu 20º título no carnaval do Rio de
Janeiro, apenas dois a menos que a maior campeã, a Portela.
Desfile
das campeãs
A
Mangueira vai fechar o Desfile das Campeãs neste sábado (9) na Marquês de
Sapucaí. Também vão desfilar as outras cinco escolas mais bem classificadas na
apuração das notas: Viradouro, Vila Isabel, Portela, Salgueiro e Mocidade
Independente de Padre Miguel.
O Desfile
das Campeãs começa às 21h15. Os ingressos para assistir os desfiles ainda estão
disponíveis e podem ser consultados
Destaques
do desfile
- O
segundo carro apresentou uma releitura do Monumento às Bandeiras, em São Paulo.
A obra apareceu manchada de sangue, em referência à forma violenta com a qual
os bandeirantes exploravam o Brasil.
- Uma
ala com passistas, a bateria e outras partes do desfile deram destaque às
rebeliões e fugas de escravos.
- O
samba citou Marielle Franco, vereadora
do PSOL morta a tiros em março do ano passado. A arquiteta Mônica Benício,
viúva de Marielle, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) e o vereador
Tarcísio Motta (PSOL) desfilaram à frente da última ala.
Com 3.500
componentes, a escola verde e rosa apresentou heróis como o guerreiro Sepé
Tiaraju, que tentou evitar o massacre dos guaranis pelas tropas de Portugal e
da Espanha.
Foram
recontadas batalhas entre índios e portugueses, com tribos dizimadas. Uma das
alas mostrou os índios Cariris e sua luta para que o Nordeste não fosse
invadido, em um conflito de mais de 50 anos.
Um grupo de
musas da comunidade chamou a atenção por representar importantes mulheres
negras, como Acotirene, matriarca do Quilombo dos Palmares, e Adelina
Charuteira, da campanha contra a escravidão no Maranhão.
Outro
momento de representação feminina foi um dos carros foi empurrado apenas por
mulheres.
O quarto
carro contou a história de Chico da Matilde. O jangadeiro negro lutou para
impedir o embarque de escravos no Ceará e foi importante para abolição da
escravidão na região.
As alas
seguintes apresentaram caricaturas que caçoaram de Pedro Álvares Cabral
(apresentado como presidiário) e Pedro I (montado em uma mula). Cheio de livros
gigantes, o quinto carro da Mangueira simbolizou "A história que a
história não conta", mais uma vez questionando as lições ensinadas nas
escolas.
G1