O prefeito de Extremoz, Joaz Oliveira, a primeira-dama, que é chefe de
gabinete, e três servidores públicos do município foram afastados dos cargos
por decisão da Justiça, na manhã desta sexta-feira (30). Os afastamentos
ocorreram durante uma operação deflagrada por uma força tarefa do Ministério
Público Federal e Polícia Federal, Receita Federal e Controladoria Geral da
União. O grupo é suspeito de fraudes em licitação da Saúde, desvio de recursos
públicos estimados em R$ 2 milhões e lavagem de dinheiro no município da Região
Metropolitana de Natal. egundo a PF, mais de 70 policiais cumprem 23 mandados
de busca e apreensão por determinação do Tribunal Regional Eleitoral (TRE/RN)
em desfavor dos servidores e de empresários do Rio Grande do Norte e
Pernambuco. Também são cumpridos cinco mandados de afastamento dos cargos,
determinados pelo corregedor regional Eleitoral, desembargador Claudio Santos.
Além das
residências dos servidores e de sete empresários envolvidos, os mandados tiveram como alvo a sede da Prefeitura de Extremoz, a
Secretaria de Saúde e o Hospital e Maternidade Presidente Café Filho.
Dos endereços onde foram cumpridos, onze são de Natal, seis de Extremoz e dois
em Recife.
Na casa de
um empresário em Natal foram apreendidos R$ 70 mil, 996 dólares e 2.865 euros
em dinheiro, segundo a PF.
Em nota, a
Prefeitura de Extremoz afirmou que entregou toda documentação solicitada pela
Justiça e que está colaborando com as investigações e está à disposição da
Justiça.
Segundo o
advogado Cristiano Barros, que representa o prefeito, Joaz entende que "os
fatos objeto da investigação que originou a operação Rei de Judá referem-se,
exclusivamente, ao pleito de 2018 inexistindo qualquer relação com o pleito
municipal. Joaz Oliveira apresentou a arrecadação e as despesas da campanha em
curso no prazo legal, inexistindo, até o momento qualquer questionamento sobre
estas, partindo o órgão acusador de suposições de que os fatos ocorridos em
2018 poderiam se repetir em 2020 para postular a deflagração da operação".
Ainda de
acordo com ele, o prefeito "pretende expor o mais breve possível sua
versão sobre os fatos objeto da investigação, oportunidade, em que, certamente
conseguirá demonstrar que as graves medidas deferidas contra si não se mostram
necessárias".
O advogado
explicou que atua apenas na defesa do âmbito eleitoral e não se manifestou
sobre as demais acusações. Procurada, a assessoria da prefeitura não soube
informar quem defende Joaz Oliveira nas demais denúncias.
Além do
prefeito e da primeira-dama, foram afastados a chefe de gabinete adjunta, a
secretária Municipal de Administração e o gerente de Tributação e Fiscalização
Municipal. Sete sócios e administradores de empresas envolvidos no esquema
estão sendo investigados.
Suspeita de
desvios
A investigação teve início a partir de indícios de falsidade na
prestação de contas da campanha política da primeira-dama, candidata a
deputada estadual nas Eleições de 2018. Conforme o MPF, a prestação de contas
de Elaine Neves foi desaprovada por diversas irregularidades que indicavam a
ocorrência de captação e gastos ilícitos de recursos. No início de novembro de
2018, já depois da votação, servidores públicos do município – principalmente
ocupantes de cargos em comissão - teriam sido constrangidos por superiores a
realizar depósitos na conta de campanha de Elaine Neves.
Ao todo, 14 servidores promoveram 38 depósitos em espécie, totalizando
R$ 87 mil (25% do valor arrecadado pela candidata na campanha, em que se
tornou suplente). Servidores comissionados confirmaram,
em depoimento ao Ministério Público, que promoveram as doações para a campanha
da “primeira-dama” a pedido de ocupantes de cargos do alto escalão do município
e sob a promessa de que teriam o dinheiro de volta, o que de fato ocorreu.
Segundo o MPF, seria uma manobra pra tentar justificar a propina utilizada na
campanha.
A força-tarefa aponta que o prefeito, sua esposa e outros
servidores promoveram fraudes em licitações para compra de medicamentos, em
troca de pagamento de propina. Parte dessa contrapartida teria ido para
a campanha da primeira-dama.
O grupo
ainda teria tentado camuflar a irregularidade a partir de doações ilegais
feitas por cargos comissionados da Prefeitura, já depois da votação, e por
ordem do prefeito.
Segundo o
MPF, o esquema de corrupção ainda se mantém ativo.
Somente em 2020, as empresas envolvidas teriam recebido mais de R$ 800 mil do
município.
Risco
Segundo o
MPF, o grupo é suspeito de ações ilícitas que vão das
previstas na Lei de Licitações, até crimes contra a Administração Pública,
organização criminosa, somados à lavagem e ocultação de bens, em conexão com
crimes eleitorais.
No pedido de
afastamento dos servidores, os procuradores eleitorais Fernando Rocha, Rodrigo
Telles e Ronaldo Sérgio Chaves Fernandes afirmam que “os elementos (…)
evidenciam um audacioso esquema de corrupção em curso na Prefeitura Municipal
de Extremoz”.
O Ministério
Público apontou o risco de o esquema não só seguir ocorrendo, como de vir a
gerar novos reflexos na atual campanha, em que Joaz Oliveira é candidato à
reeleição. “A ausência de qualquer tipo de responsabilização pelos fatos
pretéritos constitui um verdadeiro convite a que se utilize novamente dos
mesmos expedientes criminosos”, afirma o MP Eleitoral.
Fraudes
Ainda de
acordo com os investigadores, a propina que os suspeitos teriam tentado “lavar”
através das doações dos servidores é resultado de um esquema montado desde o
início da atual gestão de Joaz Oliveira (iniciada em 2017) junto a empresas de
medicamentos. Segundo o MPF, há provas coletadas através da movimentação
financeira dos envolvidos e relatórios da CGU, além de colaborações premiadas.
O MP Eleitoral concluiu pela existência de uma “verdadeira organização
criminosa” na Prefeitura, com objetivos de recebimento de propina “paga pelas
empresas de fornecimento de medicamento para o atual prefeito e sua esposa” em
troca de desvio de recursos públicos em favor desses empresários.
As
fraudes nas licitações (confirmadas por auditoria feita pela CGU a pedido do MP
Eleitoral) incluíam a utilização de empresas chefiadas por laranjas, fraude na
cotação de preços, divergências de dados, ausência de notas fiscais, entregas
de produtos diferentes dos licitados, dentre outras irregularidades. De 230 itens licitados
em um dos certames, somente houve disputa efetiva em 11, um forte indício de
“conluio entre os licitantes”.
Em todos os
procedimentos analisados, a CGU encontrou "graves irregularidades". O potencial prejuízo aos cofres públicos alcançou R$
2.024.064,55.
Medidas
Além de
afastados de suas funções, os cinco integrantes da Prefeitura (assim como os
sete empresários) não poderão manter contato com as
testemunhas que assinaram termo de colaboração premiada e nem poderão acessar
qualquer prédio público relacionado à administração do Município de
Extremoz. O MP Eleitoral também obteve suspensão de todos os pagamentos da
Prefeitura (e dos próprios contratos) às empresas investigadas.
Foto: Kleber Teixeira/Inter TV Cabugi
G1RN