Mais
de 12h depois de encontrar Ednaldo Silva dos Santos, de 54 anos, morto dentro
da própria casa, a família dele ainda não conseguiu enterrar o corpo. Com
suspeita de Covid-19, o homem aguardava o resultado do exame para a confirmação
do quadro. No entanto, na noite desta quinta-feira (7), Ednaldo foi encontrado
morto com uma pancada na cabeça, na sala do imóvel em que morava, na Zona Norte
de Natal.
Por causa da
suspeita de ter contraído o novo coronavírus, o Instituto Técnico-Científico de
Perícia (Itep) não realizou os procedimentos periciais no cadáver. Como não se
sabe se a morte foi acidental, ou se foi um assassinato, o Serviço de
Verificação de Óbito (SVO) também não examinou o corpo, que está em um carro de
funerária, na frente do Itep, já em estado de decomposição.
O
sobrinho de Ednaldo, José Adilson dos Santos, foi o primeiro parente a chegar
na residência do tio. “Eu estava com meu avô no hospital, que também tem
suspeita de Covid, quando soube da notícia”, relembra.
José Adilson
conta que, quando chegou ao imóvel, a polícia e o Itep estavam no local.
Questionado por um perito sobre as condições de saúde de Ednaldo, José Adilson
informou sobre a suspeita de Covid-19.
“Ele soltou
a perna do meu tio e disse que não levariam o corpo. Disse para eu procurar uma
funerária e levar ele para o SVO, que o caso não era com o Itep. Acreditei e
assim o fiz”.
O corpo de
Ednaldo dos Santos passou a noite trancado na casa. “Estimaram que fazia um dia
e meio que já estava lá, por causa do estado de decomposição. E lá ficou mais
uma noite”, relata o sobrinho.
No amanhecer
desta sexta (8), os familiares contrataram uma funerária, que levou o cadáver
até o Serviço de Verificação de Óbito. Após mostrar as fotos que ele mesmo fez,
José Adilson foi informado de que, por haver muito sangue na cena, podia ser
que seu tio não tivesse caído. “Disseram que alguém podia ter batido com alguma
coisa na cabeça dele” acrescenta.
O sobrinho
então foi orientado a procurar a Polícia Civil. “Fui na 12ª DP e o delegado,
depois de ver as fotos, concordou com o que haviam me dito no SVO. Disse para
eu levar meu tio para o Itep, onde seriam realizadas as perícias. Então eu
vim”.
Durante todo
esse tempo, o corpo de Ednaldo dos Santos permaneceu dentro do automóvel
funerário. “No sol, em estado de decomposição. Um total descaso”, reclama José
Adilson.
Depois da
delegacia, ele foi até o Itep, onde lhe disseram que deveria procurar uma
Unidade de Pronto Atendimento. “Procurar uma UPA pra quê? Meu tio está morto,
não está doente. Não há uma unidade de informação, eles ficam empurrando de um
para o outro”.
Após horas
de tentativa, Adilson foi informado que o Instituto de Perícia receberia o
cadáver às 14h. Contudo, até o fechamento desta matéria, ainda não havia sido
atendido.
“Meu tio tem
onde ser enterrado, está tudo encaminhado quanto a isso. Mas eu preciso dos
documentos, do atestado de óbito, preciso saber de que ele morreu, saber se tem
algum procedimento que devo seguir no sepultamento, por causa da suspeita”.
José Adilson
diz ainda que tem medo de ter contraído o novo coronavírus do tio. “Eu entrei
na casa, precisei pegar os documentos dele. Não tinha luva… estou em contato
com o corpo aqui, assim como também o motorista da funerária. E se ele tiver,
mesmo, Covid? Podemos estar colocando em risco outras pessoas, que não têm nada
a ver com isso. Tenho um recém-nascido de oito dias em casa. Como vou fazer? Eu
vou fazer o teste? Não fui orientado a nada”.
Autópsia
verbal
O aumento no
número de casos de Covid-19
mudou o processo de identificação das causas de mortes - sem suspeita de
coronavírus - no Rio Grande do Norte: os corpos são submetidos a uma
autópsia verbal e, em alguns casos, são liberados sem uma causa de morte
definida.
Sem a
autópsia tradicional, os médicos fazem uma análise externa do corpo e
entrevistam familiares para determinar a causa aproximada da morte. Esse
procedimento passou a ser a adotado em março pelo Serviço de Verificação de
Óbitos (SVO) por recomendação do Ministério da Saúde para evitar contaminação.
Já os corpos
de pessoas com suspeita de coronavírus são enterrados sem passar pelo Serviço
de Verificação de Óbito. Segundo a Secretaria de Saúde, nesses casos, o médico
do hospital pode colocar no atestado "causa da morte indeterminada"
e, após o resultado do exame, em caso de confirmação, a família é informada e a
morte entra para a estatística oficial do Estado.
Entretanto,
José Adilson afirma que não foi esclarecido sequer sobre isso, porque não teve
atendimento. E, no caso de Ednaldo, a situação é diferente: ele era um caso
suspeito, mas sua morte não está necessariamente relacionada ao vírus. “É um
total descaso, meu tio está sujo, cheio de bicho. Eu só quero poder enterrar
ele”.
Atualização: O corpo deu entrada no Itep por volta
das 16h. Segundo José Adilson, o laudo indicou que a contusão na cabeça de
Ednaldo foi provocada por uma queda. Ao final, o médico legista concluiu que
foi uma "morte por causa não identificada" e liberou o cadáver para o
sepultamento.
G1
RN