Conheça como vive o
estudante Lucielio Cavalcante, do 1º ano do ensino médio, da Escola Estadual Gilney de Souza, que acertou,
durante sua primeira participação no ENEM, 174 das 180 questões objetivas.
De acordo com o
aluno, no período de dezembro de 2014 a março deste ano, ele estudava durante
14 horas diariamente. No entanto, quando começou o ano letivo, esse tempo foi
reduzido para duas horas por dia.
Não existem obstáculos para quem está decidido a
vencer. Prova disso é o exemplo de Lucielio Cavalcante, 18 anos e natural de
São Miguel, que, embora tenha sido afetado por limitações físicas impostas pela
paralisia cerebral, não cedeu às dificuldades e alcançou um resultado
surpreendente na edição 2015 do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). O aluno
do 1º ano do ensino médio na Escola Estadual Gilney de Souza, unidade situada
naquela cidade, afirma ter acertado, durante sua primeira participação na
avaliação, 174 das 180 questões objetivas.
“Quando corrigi a primeira prova objetiva pelo
gabarito extraoficial, vi que tinha acertado 89 questões e quase cai da cadeira
com o resultado”, recorda Lucielio. Ele acrescenta que, no último dia 28 de
outubro, conferiu todas as provas dos dois dias de exame, considerando o
gabarito oficial divulgado pelo Ministério da Educação. Foi nesse momento,
segundo o estudante, que houve a certeza dos mais de 170 acertos. “Depois de
corrigir a prova pelo gabarito oficial, agi mais naturalmente”.
Procurada, a
direção da escola prefere não se manifestar sobre o resultado no Enem, alegando
que não teve acesso às provas de Lucielio e que necessitaria de um resultado
oficial para se pronunciar, na condição de instituição de ensino.
“As pessoas
perguntam por que o MEC não entrou em contato comigo, já que alcancei esse
resultado. Mas, se tivesse algum erro, já teriam contestado”, declara o
estudante.
Apesar de a escola
ainda não se posicionar, na unidade, os professores conhecem de perto a
dedicação de Lucielio. “Ele é o primeiro a chegar à escola. O primeiro bom dia
para alunos é direcionado a ele. Luciélio é um estudante que senta na frente, é
participativo, como também um dos que mais interagem”, diz o professor de
Física, Antônio Negreiros.
Lucielio tem
problemas com a coordenação motora. Apresenta dificuldades para andar,
atividade que executa apenas com a ajuda de alguém, na escola. A unidade de
ensino pondera que é importante a compra de uma cadeira mais confortável, a fim
de que o estudante esteja em melhores condições dentro da sala de aula, pois
ele fica muito tempo sentando. Lucielio vai para a escola em um carro da Prefeitura de São Miguel, que o conduz à
unidade e traz de volta para casa, todos os dias.
Lucielio não se
deixa intimidar pelas circunstâncias e prossegue para o objetivo de ser
psicólogo. “Quero ser psicólogo. Se eu conseguir o certificado de conclusão do
ensino médio, quero seguir para a universidade. Penso na UFRN”, diz.
“Lucielio é um
aluno modelo, um dos últimos a sair da escola. Já cheguei a citá-lo como
exemplo, uma vez que existem jovens desinteressados. Ele supera todas as
barreiras e não se acomoda”, frisa Lindomar Silva, professor de Língua
Espanhola. Sobre o futuro de Lucielio, o educador afirma ter ciência do
potencial do aluno. “É como diz o ditado: Quem tem a vontade, tem a metade. Ele
pesquisa, não se limita ao que aprende em sala de aula”, acrescenta.
O estudante relata
que a professora Ivanilda de Souza contribuiu para o crescimento dele em
redação. “Ensinei os passos para fazer uma boa redação. Além disso, Lucielio é
comprometido. É o primeiro a trazer as atividades de sala de aula”, salienta.
Maiara da Silva
estuda na mesma sala de Luciélio e reconhece o esforço do colega. “Apesar de
ter limitação, ele é dedicado, não quis desistir e busca a felicidade”, diz.
ROTINA
Nossa reportagem
acompanhou o momento em que o estudante retornava para casa. Ao descer do
carro, o estudante foi amparado pelo motorista, para poder entrar em seu lar,
que é simples, mas, sem dúvida, é também um ambiente onde vivem pessoas
dispostas a lutar pela vida.
O estudante tem
muletas e um andador, mas se locomove, tendo as paredes de casa como apoio.
Lucielio mora com a mãe, dona Francilene Cavalcante, de 53 anos, que acompanha
o filho em todos os lugares. O pai morreu quando o estudante tinha apenas 13
dias de nascido. “Em todos os lugares, vou com ele, porque Lucielio precisa do
meu amparo”, diz Francilene. A evolução da saúde do estudante depende de
sessões de fisioterapia, que foram interrompidas. “Ele faz fisioterapia em Pau
dos Ferros, mas faz uns três meses que ele não vai. Houve dificuldades com
transporte, mas vou correr atrás”, conta.
A mãe diz ainda que
Lucielio já apresenta melhoras, uma vez que, anteriormente, ele nem ao menos
andava se apoiando, como faz atualmente. “Os médicos dizem que os movimentos
dele podem melhorar”, ressalta.
Francilene reafirma
a fama de estudioso do filho, que tem três irmãs. “Fiquei muito emocionada e
feliz quando soube do resultado do Enem. Ele está aproveitando o estudo. O que
posso deixar para eles [os filhos] é estudo”, declara. Lucielio chegou a
receber uma proposta de bolsa apresentada por uma escola de Fortaleza/CE, mas
preferiu ficar no RN e continuar lutando pelo sonho de ser psicólogo.
Diego Carvalho -De
São Miguel.
Gazeta do Oeste.