
A psicóloga Natália Longo, mãe do menino Joaquim Ponte
Marques, de 3 anos, relatou à Polícia Civil de Ribeirão Preto (SP) em
seu último depoimento, na quinta-feira (14), que o padrasto do menino,
Guilherme Longo, já havia maltratado a criança em casa. A reportagem
teve acesso neste sábado (16) às declarações da mãe, onde ela relata um
episódio em que Joaquim teria feito xixi na cama, e Longo, para
castigá-lo, teria colocado o menino de roupa embaixo do chuveiro.
O
advogado de Longo, Antônio Carlos Oliveira, confirma o fato, mas diz
que o padrasto teria colocado Joaquim de roupa no chuveiro por outro
motivo. "O Joaquim não queria tomar banho. Eles já haviam combinado de
que o que tivesse que ser feito, o Joaquim iria fazer. Então
obrigaram-no. Dessa forma, ele o colocou de roupa e tudo no chuveiro.
Mas com o consentimento da Natália", diz.
Maus-tratos
De
acordo com o depoimento de Natália, Longo teria ficado nervoso em uma
ocasião em que Joaquim teria feito xixi na cama. Para castigá-lo,
segundo ela, o padrasto colocou o menino de roupa embaixo do chuveiro. A
mãe conta que ao se deparar com a atitude de Longo, o impediu que
mantivesse Joaquim naquele estado embaixo d´água.
A mãe do menino
voltou a mencionar que Longo era agressivo e a ameaçava com frequência,
e que o padrasto tinha ciúmes de Joaquim.
Tentativa de suicídio
A
mãe de Joaquim também mencionou que na noite do dia 4 de novembro - um
dia antes do desaparecimento do menino - Longo confessou a ela que
trocou seu aparelho celular por um pino de cocaína em uma "biqueira".
Segundo
Natália, a troca ocorreu na noite de 3 de novembro, mesmo dia em que o
padrasto de Joaquim tomou 10 comprimidos do medicamento Royphinol - que
ele mesmo usava para dormir - na tentativa de se matar. De acordo com
Natália, Longo não suportava mais o uso de cocaína. Já na madrugada do
dia 4, Longo foi levado ao Hospital São Francisco, onde ficou internado
até a tarde daquele dia.
Arredores do córrego
Indagada pela
polícia sobre os locais nos arredores da casa em que Joaquim estava
acostumado a brincar, Natália afirmou que o menino brincava em uma
praça, mas que jamais ele teria se aproximado do "campinho" que fica
próximo ao córrego Tanquinho. O local a que a mãe de Joaquim se refere é
onde o cão farejador da PM encontrou rastros do menino e do padrasto.
No
dia 5 de novembro, no entanto, Natália declarou à imprensa que Joaquim
estava acostumado a brincar neste mesmo campinho. "Ele gostava de vir
aqui [próximo ao córrego] para brincar, para jogar bola. Se aconteceu
alguma coisa, simplesmente eu não sei", afirmou, na ocasião.
Advogado
O
advogado de Guilherme Longo, Antônio Carlos de Oliveira, negou as
acusações feitas por Natália. Em relação ao episódio do suposto castigo,
Oliveira confirma que o padrasto colocou Joaquim de roupa embaixo do
chuveiro, mas diz que o fato ocorreu por outro motivo. "O Joaquim não
queria tomar banho. Eles já haviam combinado de que o que tivesse que
ser feito, o Joaquim iria fazer. Então obrigaram-no. Dessa forma, ele o
colocou de roupa e tudo no chuveiro. Mas com o consentimento da
Natália", diz.
Segundo Oliveira, tanto Natália quanto Longo, por
terem um filho de pouca idade, liam muito sobre educação infantil. A
atitude de Longo, de acordo com o advogado, teria sido baseada em alguma
dessas leituras, e com total consentimento da mãe de Joaquim.
Ainda
de acordo com o advogado, o padrasto nunca teria maltratado o menino.
"Ele nunca castigou a criança, muito pelo contrário. Sempre tratou o
Joaquim muito bem. É de se estranhar, porque em depoimentos anteriores a
Natália sempre retratava isso com toda a propriedade. Bem como os
familiares da Natália e até mesmo o pai do Joaquim retratou que o
Guilherme tratava a criança com carinho", comenta.
Em relação às
brigas e ameaças do casal, Oliveira afirma que Guilherme revelou em
depoimento que não era um homem ciumento, até porque Natália não daria
motivos para tal. O advogado confirma, no entanto, uma menção à ameaça
de morte, que ele classifica que foi feita no sentido figurado. "Em
relação às desavenças do casal, ele retrata isso no depoimento. Ele
estava com muita raiva, e falou: olha, se você fizer isso eu vou te
matar. Mas não no sentido literal. No sentido figurado", explica.
A
tentativa de suicídio com comprimidos também foi confirmada pelo
advogado de Longo. "O medicamento que ele estava tomando foi por
indicação do médico. É uma droga utilizada para induzir ao sono. Ele
estava usando regularmente. Só o fato que ocorreu de domingo [3 de
novembro] para segunda [4 de novembro] que ele, em desespero, tomou essa
quantidade em maiores comprimidos", conclui.
Linha de investigação
Joaquim
Ponte Marques, de 3 anos, desapareceu de dentro da casa da família, na
madrugada de 5 de novembro, em Ribeirão Preto (SP). O corpo foi
encontrado cinco dias depois, boiando no Rio Pardo. Ele foi enterrado na
segunda-feira (11) em São Joaquim da Barra (SP).
A mãe de
Joaquim, Natália Ponte, e o padrasto dele, Guilherme Longo, estão presos
temporariamente, suspeitos de envolvimento no sumiço e na morte da
criança. Eles alegam inocência.
O promotor do caso, Marcus Túlio
Nicolino, afirmou que a polícia e o Ministério Público continuam
trabalhando com ‘a linha de que o assassino estava dentro da casa’.
Guilherme
Longo e Natália Ponte negam envolvimento na morte de Joaquim.
Entretanto, Natália revelou nos três depoimentos que prestou após a
prisão que sofria agressões e ameaças por parte do marido, além dos
ciúmes que Longo sentia do enteado. O padrasto nega as afirmações e diz
que eles tinham apenas brigas corriqueiras. Nicolino disse que a
realização de uma acareação entre Natália e Longo não deve acontecer
nesse momento de investigações.
Desde o início das investigações,
a Polícia Civil obteve imagens registradas por câmeras de segurança
instaladas na rua onde fica a casa da família de Joaquim e próximo à
casa do pai de Guilherme, Dimas Longo. Segundo o delegado, Dimas saiu de
carro da casa dele, na madrugada do desaparecimento de Joaquim, e
retornou algum tempo depois. As imagens ainda estão sendo analisadas
pela polícia.
O promotor afirmou que, na semana passada, a
polícia obteve um vídeo – também gravado na madrugada do sumiço do
menino – que mostra um homem carregando um objeto que se parece com uma
sacola grande, andando pela rua da casa da família. As imagens não foram
divulgadas pela polícia, mas já foram incluídas no inquérito. A polícia
aguarda ainda o resultado dos laudos toxicológicos feitos no corpo do
menino.
Fonte: G1